Depois de uma longa pausa por motivos de estudo e trabalho voltamos ao nosso planejamento inicial! Uhu!!! \o/ O primeiro livro da volta do clube foi escolhido por mim e como meu texto ficou gigante, vou deixar aqui no começo o convite para ver os posts do Felipe e do Mateus com suas opiniões.
Vamos lá, mas já aviso que haverá alguns spoilers, então cuidado.
Em O aprendiz, primeiro volume da série Conjurador, Fletcher é um órfão de 15 anos e, para sua surpresa, conseguiu invocar um demônio do quinto nível. O problema é que apenas os nobres deveriam ser capazes de conjurar criaturas e usá-las na guerra contra os orcs. Mas plebeus como Fletcher também podem ser conjuradores, e o garoto consegue uma vaga na Academia Vocans, uma escola de magos que prepara seus alunos para os campos de batalha. Lá, ele irá enfrentar o bullying dos nobres, mas também aprenderá feitiços e fará amigos incomuns, como anões e elfos. Além de se provar digno de uma boa patente na guerra, Fletcher e seu grupo de segregados precisam se unir e vencer o preconceito que sofrem na desigual sociedade de Hominum.
Retirado do Skoob
Tenho que confessar que o que me chamou a atenção na sinopse desse livro foi a frase: "conseguiu invocar um demônio do quinto nível"! Como leitora assídua de mangás, li muitas histórias sobre Youkais e sempre gostei desse tema, então estava muito curiosa pra saber como ele iria tratar demônios e orcs nessa pegada de aventura medieval.
ABRA A SUA MENTE
Na cultura japonesa, demônios não são exatamente coisas ruins, podem ser monstros, animais ou entidades com forma humana, alguns são tratados como espíritos, mas muitos são criaturas sobrenaturais da mitologia asiática. No Brasil associamos muito o demônios com a bíblia e religião, ele se tornou sinônimo do Diabo, mas em muitas partes do mundo e principalmente na literatura fantástica, demônios são criaturas ou pessoas do submundo, isto é, de um mundo paralelo ao nosso. Essas criaturas podem ser malignas e usar os humanos como fonte de energia, ou apenas usar seus "poderes especiais" para ajudar ou atrapalhar as pessoas.
No início não estava tão empolgada assim, comecei a ler com muito medo da história não me cativar ou ser muito infantil, apesar dela estar bem recomendada no skoob, mas o livro me surpreendeu, gostei do ritmo da história e da forma da escrita bem mais do que eu esperava. Ela não traz nada muito novo, a personalidade do personagem principal, a construção do enredo, é muito parecida com outras histórias do gênero. Ele é órfão e praticamente persona non grata na sua cidade, o único que gosta dele é o ferreiro que o achou e acabou acolhendo-o e criando-o como seu filho. Apesar de inteligente, esperto e esforçado, sofre perseguição e boicotes do filho do homem mais rico da aldeia, por isso Fletcher sonha em se sobressair e dar o troco no mimado. Quando um forasteiro aparece e enfrenta o filho insuportável, Fletcher ganha a chance de sua desforra, mas esse episódio também vai mudar seu destino.
Depois de invocar “acidentalmente” o demônio e ferir seriamente o seu antagonista, Fletcher se vê tendo de fugir. Ao chegar numa cidade acaba sendo alvo de dois ladrões, e ao tentar se livrar deles acaba encontrando duas pessoas importantes pra ele e para a história. O primeiro é um anão; e o segundo é um mago guerreiro que por sinal será um dos professores da Academia Vocans, este, ao ver que Fletcher tem um demônio que conjurou de maneira totalmente peculiar, o manda para a academia para conversar com o diretor e ver se ele pode estudar lá ainda aquele ano. A escola é em forma de internato, e alí ele conhecerá amigos que serão seus companheiros nas provações que passarão contra os nobres, pois segundo a tradição, somente os primogênitos dos nobres nascem capazes de controlar um demônio, e os plebeus são aceitos muito mais como um favor, uma grande oportunidade. Os plebeus são alvos de descaso e agressões verbais dos nobres, mas os que realmente sofrem com a discriminação são o aluno anão e a aluna elfa, estes são evitados por todos os demais alunos, menos Fletcher, que tende a enxergar o indivíduo e não sua raça, fazendo os demais plebeus do primeiro ano perceberem a mesma coisa.
A academia já foi muito próspera, mas como a guerra contra os orcs está cada vez mais complicada a escola perdeu financiamento, também por causa dela os estudos dos alunos foram adiantados para eles estarem no campo de batalha dois anos mais cedo. Muitas salas estão desativadas e somente os ambientes frequentados pelos nobres são mantidos sempre impecáveis. Há 3 matérias: o estudo dos demônios, a prática de controlar eles e o estudo e a prática de feitiços usando símbolos e a mana. "Mana é comumente interpretado como a "substância da qual a magia é feita", além de ser a substância que forma a alma. Essa força existiria não só nas pessoas, mas nos animais e objetos inanimados, instigando no observador um sentimento de respeito ou de admiração."
Outro recurso de roteiro muito encontrado em outras histórias é a diferença de conhecimento do personagem principal e do seu antagonista, que dessa vez é o filho do nobre mais poderoso do reino, excluindo a família real. Tarquin é o típico filho mimado e arrogante, se acha o dono de tudo e o melhor de todos, usa o poder e dinheiro da sua família para conseguir o que quer. Ele e sua irmã gêmea foram criados desde pequenos para serem os melhores, tanto que ganharam os melhores demônios que seus pais conseguiram capturar. A personalidade dos irmãos são bem parecidas com a do filho do homem mais rico da aldeia onde Fletcher cresceu e acredito que esse foi um dos grandes motivos para que Fletcher quisesse tanto ser melhor do que eles, mas ao contrário dos dois, ele só conta com sua força de vontade e determinação pois todos os nobres tem muito mais conhecimento sobre o mundo dos demônios que os plebeus. A esperteza do protagonista juntamente com sua sorte e engenhosidade conseguem fazer frente à força de seu antagonista, conseguindo assim um pouco de igualdade entre eles.
(O Mateus comentou que viu uma comparação entre Harry Potter e O Conjurador, eu percebi sim essa semelhança, muito mais porque eles usam do mesmo recurso de enredo. Fletcher e Harry tem personalidades bem parecidas, são corajosos e tem o senso de justiça apurado, isso acaba metendo-os em encrencas. Suas engenhosidades e sorte acabam compensando a falta de conhecimento e os dois terminam enfrentando desafios sem estarem realmente preparados. Os antagonistas também são muito parecidos, Tarquin e Malfoy poderiam ser irmãos pois compartilham da mesma arrogância e atitudes. Rsrs Mas as semelhanças param por aí, pois o mundo, as criaturas, a dinâmica são diferentes. Harry Potter com certeza é mais rico em detalhes do mundo, da escola e da magia em si. O Conjurador foi mais para o lado da fantasia medieval com um elemento diferente, que são os demônios.)
Mas agora eu vou falar sobre o que mais me chamou a atenção no livro. Como ele articulou as relações da nobreza foi uma feliz surpresa, me fez lembrar das aulas de história, consigo imaginar que os nobres reagiriam exatamente daquele jeito diante da realidade dos plebeus terem a capacidade de serem conjuradores. Conseguir controlar demônios foi uma técnica ensinada pelos elfos há muito tempo atrás, na primeira guerra contra os orcs, os elfos concordaram em ensinar os humanos em troca de proteção e assim a aliança foi feita. O autor não explica o motivo pelo qual só os nobres tem tal habilidade (ou eu esqueci o motivo… rsrs), mas ela é passada sempre para o primogênito de cada relação, confesso que fiquei bem confusa nisso, mas abstraí. Vou tentar explicar: Tanto o homem quanto a mulher podem ter vários filhos com a habilidade, desde que seja o primeiro filho do parceiro, ou seja, o homem pode engravidar mulheres diferentes e se for o primeiro filho delas, todos serão magos. Acontecendo o mesmo com a mulher, ela pode engravidar de parceiros diferentes desde que estes não tenham tido outros filhos.
Até alguns anos antes de Fletcher entrar na academia, ninguém nunca cogitaria a entrada de um plebeu na escola pois acreditavam que somente o primeiro filho herdaria o poder, então sempre houve o cuidado do primeiro filho ser legitimado pelo casamento. Até que houve um momento em que um órfão abandonado pela mãe e criado num orfanato roubou um jovem nobre que estava a caminho da academia, conseguiu ler o pergaminho de invocamento, dado pelo pai do jovem, e acaba conjurando seu próprio demônio. Na investigação de como esse plebeu poderia ter conseguido tal feito, descobriu-se que ele era um filho bastardo de um nobre, e que na região existiam vários casos iguais a este; o que colocou a esposa do nobre, e parente do rei, num escândalo, pois ficou comprovado que o marido a traía. Para evitar outros escândalos parecidos foi proibido testarem crianças órfãs para a habilidade de conjuração, permitindo somente os filhos de plebeus para aumentar a quantidade de magos no campo de batalha. (Me pergunto quantos desses plebeus desenvolveram a habilidade e quantos na verdade tem bastardos da nobreza entre seus antepassados. Rsrs) Esta é a história do primeiro plebeu na academia, que por sinal é um dos professores de lá atualmente, e sua relação atual com o pai e madrasta, com certeza é muito interessante, quero muito ver o desenrolar dela.
A nobreza está em constante luta para se manter no poder, apesar do título e do prestígio, eles se encontram em uma situação financeira complicada pois a economia está mudando com o surgimento de novas armas e recursos. Os anões inventaram as armas de fogo e a família Pasha tem em suas terras os metais e enxofre necessários para a fabricação da pólvora, a aliança desses dois os fizeram umas das fortunas mais proeminentes da época (isso me lembra tanto a burguesia e nobreza das aulas de história! XD).
Os demônios nesse livro são criaturas animalescas com características de animais conhecidos no nosso mundo. Eles têm classificações como dificuldade de controle, agressividade, habilidades específicas de defesa e ataque. Quando são invocados, desenvolvem uma ligação única com os magos, se tornando extremamente leais, mais parecendo bichos de estimação misturados com cães de guarda.
Como os magos se portam e usam suas habilidades é com certeza o ponto chave desse livro, além da história pessoal de Fletcher. Verdadeiros magos capazes de controlar sua mana pessoal para lançar feitiços de manipulação da natureza, escudos capazes de parar balas, invocar demônios, manter conexão com eles além de utilizar as manas dos demônios para aumentar sua força. Quero muito uma cena mais detalhada de um combate na guerra contra os orcs, ver todo a capacidade de um mago, principalmente de um experiente (pena que o Fletcher não teve o treinamento adequado que o preparasse para o que está por vir no resto da história). Os orcs não foram muito abordados nesse primeiro livro, então não vou fazer comentários sobre eles.
Mangá Chrome Breaker |
Para a execução da magia são necessárias inscrições desenhadas em material orgânico. A utilização de círculos mágicos são bem conhecidas por mim, novamente por conta de animes e mangás, assim como esconder o demônio dentro do seu corpo por algum método, e fiquei muito feliz ao ver esses recursos presentes na história. Mas o que mais me surpreendeu foi uma semelhança com o mangá/anime Fullmetal Alchemist, nesse anime eles usam a alquimia como arma de combate; para que alquimia seja executada é necessário uma inscrição desenhada em algum lugar e elementos para que seja possível uma troca equivalente. No mangá/anime há um personagem que utiliza uma técnica semelhante a que Fletcher usou no final. Coronel Roy Mustang é capaz de manipular o fogo e para poder ser mais rápido no uso da alquimia ele deixa a inscrição pronta em uma luva e sempre à mão para ser utilizada.
"Usando uma luva especial com um círculo de alquimia, Roy Mustang cria uma fagulha de fogo com a fricção do dedo com a mão, e com o círculo ele controla o oxigênio, criando uma combustão seguida de uma explosão, a potência e distância que pode ter a explosão podem variar e serem controlados"
As cenas com o Coronel Mustang são tão fodas que foi impossível escolher 1 GIF apenas. Rsrs
Bom, deu para perceber que gostei do livro pelo tanto que eu escrevi. Rsrs O final quase me fez subir pelas paredes e quase tive um chilique pois queria iniciar o segundo livro imediatamente. Acredito que o final vai dividir opiniões pois não foi um tanto incomum, me lembrou final de capítulo de novela dramática tipo Avenida Brasil, Hauhauhau. (Apesar de noveleira, não assisti essa novela, mas os finais bombásticos e as caras congeladas de surpresa foi um fenômeno, mesmo quem não assistisse ficaria sabendo pois era assunto em todos os lugares). Eu recomendo o livro, apesar de sentir que ele poderia ser mais detalhado e mais explicativo sobre a magia e os demônios, quem está acostumado com livros adultos pode sentir falta disso, talvez a decisão do autor foi ter deixado o livro mais leve para os mais jovens, mas com certeza perdeu a chance de cativar um público mais maduro também. Entretanto, há alguns exemplos de autores que conseguiram fazer o balanço perfeito para cativar tanto o adulto quanto o infanto-juvenil.