Numa das muitas conversas sobre literatura, (
principalmente depois de temos lido a Lenda de Ruff Ghanor), o Felipe e eu decidimos que algumas vezes leríamos o mesmo livro para poder compartilhar entre nós as primeiras impressões, e quando estávamos decidindo como seria a forma de escolha do próximo livro, ele surgiu com a brilhante ideia de cada um escolher um que o outro poderia gostar mas que nunca teria coragem de ler. E daí surgiu um novo projeto (
Caraca, de projeto eu estou cheia, só falta dar conta de tudo... Rsrs) onde cada participante escolhe um título para que todos leiam juntos e depois faremos uma resenha no blog.
E para deixar essa aventura ainda mais legal contamos com o ingresso de mais um participante!! O Mateus, "discípulo" do Felipe, (
Coitado dele... hauhau) dono do novíssimo blog
Porão da Leitura. Além do mais, já iniciamos com uma ótima escolha do Felipe para o primeiríssimo livro da extensa lista criada por nós e mantida em segredo (
ou não, já que sou previsível) até o momento certo de revelar para o grupo, já que foi decidido por sorteio a sequência das pessoas que indicariam a próxima leitura. Nessa rodada o Felipe ganhou a oportunidade de indicar o livro, seguida por mim e depois pelo Mateus. Os dois já escreveram suas resenhas, só entrar nos links para ver o que eles acharam de O Nome do Vento!!! (
by Felipe - Middangead) (
by Mateus - Porão da Leitura) Cuidado com a minha resenha pois ela vai ter spoilers...
O Nome do Vento - Patrick Rothfuss
O livro conta a história de Kvothe narrada por ele a um cronista, enquanto este está vivendo como um taverneiro sob o nome de Kote.
Kote tem um segredo, aparenta estar se escondendo de alguém ou de alguma coisa, talvez seja dele mesmo. Ouve seus feitos, narrados e aumentados pelas pessoas, é um mito, uma lenda, acreditado por alguns e tratado como "apenas uma história" por outros. Vivendo um dia após o outro, com sua simples rotina cuidando de sua hospedaria, até que um evento o coloca no caminho de um cronista, mas não somente um simples escritor, um grande buscador da verdade muito conhecido por desfazer lendas e chamado com reverência de O Cronista, o maior de todos os tempos, e depois de muito empenho e algumas negociações Kote resolve contar sua história para ele.
Tenho que avisar que tenho um sentimento ambíguo com esse livro, ao mesmo tempo que a história é envolvente e em alguns momentos não queria parar de ler, em outros, ela era tão frustrante que minha vontade era de abandonar e nunca mais voltar. Hauhau Não posso dizer que amei de paixão, e nem posso falar que ele é terrível e que daria uma nota baixa. Na verdade se precisasse dar uma nota para O Nome do Vento não conseguiria... Para um livro mexer tanto assim comigo ele só pode ser muito bom, né? Ou talvez eu seja maluca... Hauhauha
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http://carlospardo.daportfolio.com/gallery/90570 |
Sem dúvida uma das partes que mais gostei foi a narração da infância dele com seus pais e suas primeiras aulas com seu tutor. Kvothe foi uma criança prodígio, muito inteligente, curiosa e ávida por conhecimento. Seus pais eram artistas que viajavam pelas cidades se apresentando junto com a trupe, mas eles não eram qualquer trupe, eles eram Edenas Ruh, muito mais habilidosos e cultos que outros artistas itinerantes, e tinham fama e respeito por se apresentarem para pessoas importantes.
Numa dessas paradas Kvothe conhece Abenthy um arcanista que se junta à trupe por um tempo, um velho com uma carroça cheia de livros e "truques mágicos", para uma criança curiosa, como Kvothe, é uma pessoa difícil de não se interessar. Ben tem uma paciência e um carinho por Kvothe que aparentemente não é de seu feitio; responde suas perguntas, o deixa mexer em seus livros e seus pertences, os dois gostam da companhia um do outro. Ben acaba se tornando o seu tutor e o inicia no mundo da alquimia, da simpatia, da retórica, da história, da botânica, da química, da anatomia, e outras ciências que tinha conhecimento. Percebe naquela criança o potencial e a inteligência para frequentar a Universidade, e como sabe que quem não tem dinheiro precisa se esforçar mais, acaba treinando a mente já aguçada de Kvothe para se destacar por seu conhecimento e habilidades para que ele possa permanecer lá, se assim ele desejar.
(Tenho que comentar aqui o quanto gostei da forma como o autor apresenta a magia, muito misturada com a ciência, com a alquimia e com o poder da mente. Foi espetacular!)
Kvothe concilia suas aulas com Ben com seus próprios afazeres e obrigações já que é um filho de Edena Ruh, tem o dever se se especializar no teatro, na interpretação, na música (toca o alaúde muito bem), na etiqueta, além de ajudar seus pais com coisas corriqueiras da viagem. Seus pais são amorosos mas ao mesmo tempo firmes, fazendo Kvothe uma criança com uma habilidade incrível e com uma personalidade justa e educada, que não aparenta a idade que tem. Mas Kvothe continua uma criança, espoleta, destemida e insensata em alguns momentos, numa de suas viagens na carroça de Ben, (querendo muito qualquer pista para conseguir aprender o Nome do Vento, conhecimento que Ben sabia mas sempre evitava explicar por achar que Kvothe ainda não estava pronto), ele faz uma dessas coisas insensatas, que coloca sua vida em risco, fazendo Ben reconsiderar sua forma de tutoramento, e colocando uma distância entre os dois.
A vida feliz e despreocupada de Kvothe está preste a mudar, um pouco depois de perder Ben, que resolveu se fixar numa cidade, a trupe é atacada e todos são mortos por uma lenda muito antiga, o Chandriano. Tudo porque seu pai estava escrevendo uma música sobre esse mito, e aparentemente recolhendo as informações corretas. Então agora ele está sozinho e muito chocado para prosseguir com seus projetos e desejos.
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http://carlospardo.daportfolio.com/gallery/90570#2 |
Esse é o período mais tenso e sombrio do livro, momento onde ele tem que lidar com o luto de seus pais e descobrir como irá sobreviver sem aquele porto seguro. Essa parte realmente mexeu muito comigo, como ele tentou lidar com a dor logo depois de ter sobrevivido ao ataque, foi um momentos onde eu me envolvi totalmente e não conseguia parar de ler. Aqui o seu alaúde se torna mais que um instrumento, é uma peça fundamental, uma extensão de sua alma.
Após isso acompanhamos Kvothe sobrevivendo como uma criança de rua, passando fome, frio, e lutando contra a cidade e contra os outros que estavam na mesma situação. Foram anos até que ele conseguisse sair do topor causado pela dor e descobrir um motivo para lutar, uma meta a cumprir. Para isso ele precisa ir para a Universidade, mas como? Como alguém que não tem nada pode querer ir para um lugar onde só quem tem dinheiro pode se manter? Kvothe decide usar tudo o que aprendeu, todas as suas habilidades para chegar lá, mas o que ele usou mais do que tudo foi sua coragem. Coragem e determinação era o que mais ele tinha.
Foi a partir daqui que o meu sofrimento maior começou, minha relação de amor e ódio ganhou força. Rsrs
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http://kingkiller.wikia.com/wiki/The_University |
A narrativa já tem uma dinâmica que me frustra e me incomoda um pouco em qualquer livro, a história não é linear. Como ela é narrada pelo próprio Kvothe, os saltos no tempo, passado e presente ocorrem muitas vezes durante todo o livro, isso me frustrava várias vezes. E as decisões que ele tomou depois de entrar na Universidade me enlouquecia, mas talvez é o que deixa essa história tão especial. Kvothe é humano, não é perfeito, é muito inteligente e todos esperam muito dele, mas nem sempre ele age como todos gostariam, e eu fui uma dessas pessoas, talvez eu criei muita expectativa em cima dele. Esperava que tudo o que ele aprendeu com o Ben somado com as lições que aprendeu nas ruas o tivessem deixado mais maduro, mas ele tinha apenas 15 anos, talvez o autor quisesse ressaltar isso naquele momento.
Na academia Kvothe fez amigos, ganhou admiração de alguns, e o ódio de outros, ele tinha pressa, estava desesperado para alcançar o que mais desejava, e como sabemos, pressa e perfeição não andam de mãos dadas. Foi nesse período que sua fama começou, seus inimigos o queria ver cair, mas sua inteligência e principalmente sua coragem para transpor essas situações conseguiam fazer sua fama, foi ali que ele começou sua lista de nomes.
“Meu nome é Kvothe, com pronuncia semelhante à de ‘Kuoth’. Os nomes são importantes porque dizem muito sobre as pessoas. Já tive mais nomes do que alguém tem direito de possuir. Meu primeiro mentor me chamava de E`lir, porque eu era inteligente e sabia disso. Minha primeira amada de verdade me chamava de Duleitor, porque gostava desse som. Já fui chamado de Umbroso, Dedo-Leve e Seis-Cordas. Fui chamado de Kvothe, o Sem-Sangue; Kvothe, O Arcano; Kvothe, O Matador do Rei. Mereci esses nomes. Comprei e paguei por eles. Mas fui criado como Kvothe."
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http://justinswapp.com/the-name-of-the-wind-book-review/ |
Nesse período também conhecemos Denna, uma garota misteriosa, a primeira paixão de Kvothe, que aparenta exercer uma grande influência na história. Ainda não sei o que esperar dela, vou ter que ler os outros volumes para conseguir entender qual a verdadeira importância de Denna nos acontecimentos e na vida de Kvothe.
Não posso deixar de comentar sobre Bast, que é discípulo do protagonista e está junto com ele no momento presente, aparentemente muito dedicado e leal. Acredita que seu mestre está se esquecendo de sua força e de sua história, e está determinado a fazer tudo o que puder para trazer de novo herói que existe em Kote. Quero muito ler a continuação para conhecer mais sobre Bast, sobre como aconteceu essa amizade e entender os motivos das ações dele, já que aparentemente ele é o responsável por acontecimentos muito importantes no início do livro.
O Nome do Vento na minha opinião é uma história envolvente, empolgante, que merece que eu dê uma chance para ela. Rsrs Pretendo reler o livro, tentando não me incomodar com o que acontece na Universidade, e quem sabe assim possa realmente me apaixonar por ele ou pelo menos conseguir classifica-lo. =^__^=